Parece inevitável escrever sobre Humanismo sem compor o primeiro parágrafo citando a Idade Média. Me refiro a frases do tipo: “Após a idade média o Humanismo surge no século XIV”..., ou, “Durante toda a idade média vigorou uma religiosidade impregnada”... . Não quero dizer no entanto, que isso não seja bom ou que seja uma inverdade, mas gostaria de escrever essa resenha contando coisas diferentes. É óbvio que todo mundo sabe que essa também foi a época da Santa Inquisição e a literatura foi a grande vítima pois foi quem pagou um preço altíssimo por ter sido o grande alvo da Igreja com vistas ao controle europeu e portanto mundial para a época. Isso porque a Igreja, já estava cansada de saber que não existia abismos no além-mar muito menos dragões a comer navios, muito pelo contrário, à custa de línguas, orelhas, dedos amputados e anotações preciosas dos cientistas e filósofos da época, a Santa Igreja aprendeu tudo isso muito antes do resto do povão. Conclui-se daí, que naquela época uma espionagem sangrenta corria solta, no melhor estilo “Dan Brown” em seu romance “O Código Da Vinci”.
O termo “povão” no parágrafo anterior inclui Realeza e Vassalagem. Todos farinha do mesmo saco, porque na época quem detinha o poder de fato era a Igreja. Talvez fosse ela a única livre dos percevejos de “Saramago”. Aqueles mesmos percevejos que esse gênio literário citou em seu romance “Memorial do Convento” quando descrevia os calores do rei D. João V com Dona Maria Ana da Áustria, dizendo que pelo menos naquela hora os bichos não chupavam o sangue azul porque eles não gostavam de muito farfalhar de colchão e preferiam adiar seu banquete para a calada da noite quando as coisas estivessem mais calmas na alcova real. Eu lia esse livro e me lembrava de como as aulas de literatura portuguesa, com decrições do hábito do uso das perucas, da sarna que teimava em se espalhar entre a nobreza e da falta de banho arraigada à cultura da época, nos fazia aprender rindo. Parecia que eu estava revisitando a página 15 do “Memorial”.
Voltando ao Humanismo, poderíamos resumi-lo sucintamente como sendo a passagem do “teocentrismo” para o “antropocentrismo”, isso só para citar outro momento em sala de aula. Parece lugar comum ou outro jargão batido, mas essa comparação diz tudo. Ela conclama a humanidade a deixar o Pai de lado, sair daquele torpor teocentrista e pensar em si mesma como Seres Divinos. Destaco aqui os humanistas que mais conheço: Erasmo de Roterdão, Thomas Morus e Auguste Comte. Foram eles, entre muitíssimos outros, que disseram praquela galegada toda sacudir a poeira dos percevejos, largar mão de ser um rebanho de vaquinhas de presépio e tomar jeito de gente. Isso mesmo! Porque até então gente não era gente, ou no mínimo parafraseando George Orwell no romance alegórico “A Revolução dos Bichos” onde ele afirma que: todos são iguais mas alguns são mais iguais do que outros. Portando, seria certo afirmar que o Humanismo foi a invenção do humano?
Não dá pra exagerar, mas eu sabia que um dia eu conseguiria colocar essa frase numa resenha. “Shakespeare: A Invenção do Humano” é o título do livro lançado em 1998 por ninguém menos que Harold Bloom, um nova-yorquino enfezado nascido em 1930 e considerado um dos maiores Shakespearianos da atualidade E sabe porque esse assunto sobre Humanismo me remeteu aos escritos desse senhor? Porque assim como em “Shakespeare: A Invenção do Humano” onde ele nos ensina a dissecar as obras de Shakespeare, também no humanismo a idéia era a busca por respostas para perguntas nunca antes formuladas. Enfim, essa talvez tenha a sido a grande contribuição do Humanismo para estes seres recém inventados, ou seja, a busca por explicações, o aguçamento da curiosidade, o rompimento com boa parte dos dogmas da Igreja, etc., partindo de uma vez por todas para a sua auto-valorização antropocentrista.
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