sábado, 5 de julho de 2008

Histórias de Pescador

Viver na região de Foz do Iguaçu e não passar pela experiência de uma boa pescaria seria como morar em Roma e nunca ter visto o Papa. Foram tantas experiências, algumas muito engraçadas, de total escárnio, de sufocos e muita comemoração e bebemoração no final.


Lembro-me perfeitamente uma pescaria na boca da noite com Marcelo e Arlindo, dois companheiros de turismo. Como tínhamos que enfrentar a noite o Marcelo pediu emprestado ao Roni um lampião, que foi entregue com a seguinte recomendação. Filho único, heim! Quero ele intacto na volta.
E fomos os três pescadores tentar a sorte na barranca do rio Iguaçu. Ocorre que por aqueles dias havia chovido muito e, antes de atingir os bancos de areia havia uma crosta de lama escura que lembrava muito a chocolate derretido. Nosso amigo Marcelo já havia aceso o lampião e, talvez por estar meio escuro ou por ser cabaço, vulgarmente falando, rolou morro abaixo num escorregão, e para salvar a fonte de luz abraçou o lampião sem dó nem piedade. Calculando que ele o havia acendido a uns quinze minutos, a temperatura deveria estar acima dos 80 graus. Apesar de ter resistido bravamente às queimaduras nosso querido
Marcelo soltou sua caixa de apetrechos, que rolou, indo parar uns dois metros rio adentro. Lembro-me que salvei a caixa com meu gancho de pesca e no final para amenizar o desastrado início de pescaria, ríamos do pobre pescador, cobrando-o pelo resgate da caixa.

Em outra ocasião lembro-me como se fosse hoje, junto com Roni e Marcelo, novamente às margens do rio Iguaçu, no Remanso Grande. Chegamos os três empolgados para fisgar uns bagres e com uma fome de leão. Cada um com seus apetrechos e seus lanchinhos. Preparadas as linhadas, anzóis devidamente recheados com tripa de galinha já na água, era chegada a hora de forrar o estômago. Eu e o Roni lavamos as mãos e atacamos cada qual seu “sanduba” quando olhando para o lado nos demos conta que nosso amigo Marcelo, depois de ter lavado as mãos com sabonete tirou de sua caixinha uma daquelas luvas de plástico que a mulheres usam para pintar o cabelo, ou seja, “um mino”. A pescaria quase acabou ali mesmo porque nós não conseguíamos para de rir. Tremeu mais uma vez a barranca do rio Iguaçu.

Claro que a mim já foram atribuídas algumas calúnias. Por exemplo quando eu peguei a maior parte dos bagrinhos num cardume localizado às margens do rio Paraná, um pouco abaixo do Iate Clube. Novamente com os dois infames pescadores, Marcelo e Roni. Somente porque eu lancei a linha e não de dei conta de que o miserável anzol ficou enroscado numa goiabeira que estava imediatamente atrás de mim. Bem, na verdade aquilo foi realmente um fiasco porque eu fiquei mais ou menos uma hora ali, esperando o bagre beliscar a isca enquanto meus bons companheiros rolavam de rir mas sem me dizer o motivo.

Foram tantas as histórias. Lembro-me vagamente de uma pescaria com o Ademir e o Alex, na época em que os dois eram sócios no Macuco Safari. Lembro-me que o Adriano e o Renato também participaram desta. Descemos o rio Paraná até a altura do Porto Península. O objetivo era pescar dourados na rodada. O interessante é que, claro, capturamos alguns dourados, mas o que realmente me lembro é que na volta, ainda do lado paraguaio, morava um pescador e a uns 50 metros rio adentro havia um pato nadando. Um pato doméstico que provavelmente pertencia ao pescador paraguaio. E o Adriano que na época era um piazinho duns 17 anos pediu ao seu tio Renato que rumasse com o barco pra perto do pobre pato. E não é que o piá, de um só golpe enganchou o pato pelo pescoço. Parece mentira, mas levamos o pato e comemos o bicho assado lá no Porto Meira.



Com um ex-parceiro, também protagonizei uma história muito engraçada. Um dia de muito sol ele me convidou para uma pescaria no rio Paraná. Entrando pelo bairro Shalon, a caminha da é curta, e por isso aquela parte do rio também era freqüentada pela garotada que ia se refrescar dando suas braçadas e fazendo muito barulho. Não precisa ser um pescador experiente para saber que uma boa pescaria requer silêncio e paciência. E foi tudo o que não conseguimos aquele dia.
Claro que, com o calor de 45 graus que faz no verão Foz do Iguaçu a garotada fazia mais barulho que uma tropa de cavalos. Havia na barranca uma árvore frondosa, cujos galhos adentravam o rio, e a piazada adorava usá-la como trampolim pra se jogar na água. E cada mergulho encurtava mais a paciência do meu companheiro de pesca, até que ele querendo dar um basta no barulho, berrou com três adolescentes. "O piazada, nós estamos tentando pescar aqui. Dou mais dois mergulhos pra cada um depois quero silêncio. Ou vocês param ou procuram outro lugar pra sua algazarra". Adolescentes? Eu disse adolescentes? Sim, a vocês sabem que nessa fase da vida o homem não obedece nem seus próprios pais, quanto mais um desconhecido em plena barranca do paranazão. Bem, e como não havia silêncio e nossa paciência também já tinha se esgotado, meu parceiro lançou mão de um facão e partiu pra cima da piazada.
Foi tanto pranchaço de facão no lombo de se escutava os gritos de longe. Eu até me assustei porque pensei que o outro pescador estava enfiando a peixera no bucho da piazada. Mas que nada foi só pranchaço mesmo, daqueles de levantar vergão. Nem é preciso dizer que nossa tranqüilidade acabou naquele instante, porque a piazada, a medida que ia levando o mato no peito gritava ameaças dizendo que ia nos pegar mais tarde. Pra nossa sorte meu parceiro reconheceu um moleque como sendo o filho de um amigo que morava na vila Shalon e aproveitou pra dizer para o garoto que aquilo era uma amostra grátis da surra que estava esperando por ele quanto chegasse em casa. Total: nenhum peixe, mas nossos maxilares chegaram doer de tanto rir.


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