Farda, fardão, camisola de dormir
Romance, Jorge Amado
Em 1940, o
exército alemão soma vitórias pela Europa. Entre elas, a tomada da cidade de
Paris. No Brasil, repressão e tortura são práticas correntes do Estado Novo,
regime instituído por Getúlio Vargas em 1937, então ainda simpático ao projeto
nazista de Hitler.
É neste panorama
geopolítico internacional e brasileiro que morre, na capital francesa, o poeta
romântico e boêmio Antônio Bruno. Com isso, abre-se uma vaga na Academia
Brasileira de Letras, fato que vai desencadear uma verdadeira guerra nos meios
intelectuais do Rio de Janeiro.
Estruturado em
capítulos breves, como um espirituoso folhetim, Farda, fardão, camisola de
dormir faz uso de um humor ferino e do ritmo caudaloso da escrita do autor
para, a partir de um caso localizado e particular, abordar assuntos universais
e mais abrangentes.
A acirrada
disputa entre os literatos pode ser comparada, com certa licença poética, à
guerra travada em terras européias. De um lado, está o coronel Agnaldo Sampaio
Pereira, simpatizante do nazismo. Do outro, o general reformado Waldomiro
Moreira. A querela prolonga-se por longos quatro meses. Mas os dois candidatos
não se equiparam ao estilo e à verve do poeta morto. Tampouco aos princípios
humanistas de Bruno. Muito menos ao sucesso que este fazia com as mulheres,
como a comunista Maria Manuela.
Como indica o
subtítulo original, Fábula para acender a esperança, a narrativa é uma sátira
leve e divertida do conservadorismo político da elite, da hipocrisia das
tradições familiares e da vaidade intelectual dos literatos.
Passagens da
biografia de Jorge Amado estão presentes no romance Farda, fardão, camisola de
dormir. A trama da narrativa, sobre a disputa por uma vaga de imortal na
Academia Brasileira de Letras, remete à eleição do próprio Jorge Amado para a
ABL, ocorrida em 1961.
Além disso, a
época em que viveu o personagem Antônio Bruno, poeta autor de “A camisola de
dormir”, foi das mais importantes e conturbadas da carreira do autor. Jorge
Amado situa a trama do livro em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial e a
ascensão do nazismo. No país, vivia-se o regime ditatorial do Estado Novo
(1937-45), quando o escritor foi vítima de censura e perseguição por sua
filiação ao Partido Comunista Brasileiro.
Jorge Amado
escreveu Farda, fardão, camisola de dormir em sua casa de Itapuã, em Salvador,
entre janeiro e junho de 1979. O fato de o livro ter sido publicado ainda
durante a ditadura militar faz dele, ao abordar tais temas, uma alegoria contra
o autoritarismo do passado e também daquele momento histórico.
Tendo esse
cenário político de fundo, o livro procura exaltar a liberdade que ainda se
vislumbrava possível. O autor busca despertar no leitor a crença na
possibilidade de mudança do status quo. Não à toa essa mensagem está expressa
na moral desta fábula, como o próprio autor define a narrativa: “A moral? Veja:
em toda parte, pelo mundo afora, são as trevas novamente, a guerra contra o
povo, a prepotência. Mas, como se comprova nesta fábula, é sempre possível
plantar, acender uma esperança”.
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