Meu interesse nessa resenha vai além do filme, que por si só, tornou-se um clássico do cinema universal. O filme trata da violência urbana e talvez tenha de tornado Cult por ser atemporal, visto que a mesma violência descrita na década de 70 do século passado (1971) pode ser assustadoramente comparada, em maior ou menor escala com a violência dos dias de hoje ou de séculos atrás. Minha atenção se volta ao diretor Stanley Krubick que já naquela época se destacava com indicações ao Oscar. Antes do ”Laranja” vieram Lolita, Dr. Fantástico e 2001 Uma Odisséia no Espaço (entre outros). Naturalmente somente sendo cinéfilo para lembrar dos roteiros e enredos desses filmes, inclusive de Laranja Mecânica. Confesso que Stanley Krubick tornou-se um dos meus Diretores favoritos devido a uma reação em cadeia: um dia presenteei meu filho com o livro “Super Brinquedos Duram o Verão Todo” de Brian Aldiss (guarde esse nome). Trata-se de ficção científica de muita qualidade com tudo a que se tem direito, desde universos imaginários, questionamentos sobre super população, desigualdade social, etc., ou seja, um “livraço”. Ocorre que Brian Aldiss, escreveu também o conto que deu origem ao famoso Ai-Inteligência Artificial de Steven Spielberg. Embolou o meio-campo? Eu explico: trata-se de uma reação em cadeia lembra-se? Brian Aldiss vendeu os direitos de filmagem de Ai para Stanley Krubick que não conseguiu desenvolver o projeto e vendeu-o, em seu leito de morte, para Steven, que não só filmou uma obra prima, como faturou mais alguns milhões de dólares com ela.
Bem, vamos ao que interessa, o “Laranja” do nosso querido Stanley, certo? O que se leva de lição? O que se aprende assistindo esse filme? Que cabeça vazia é a oficina do diabo? Que o crime não compensa? Que a sociedade dá com uma mão e tira com a outra? Pode ser isso e muito mais. O mais importante num “Cult” é ler as entrelinhas, ou seja, captar a mensagem subliminar de como um filme como esse meche com a sociedade. Afinal de contas ele não se tornou um clássico à toa. O Grande “gancho” é o repulsivo “tratamento Ludovico”, mas a atemporalidade também é marcante. Parece que estou vendo meu Brasil de hoje, com mendigos sendo queimados em pontos de ônibus, formação de gangues para roubar estuprar e matar e bandidos que acabam entrando para a força policial. Talvez a lição mais importante, do ponto de vista sociológico, é que um ex detento não se torna um egresso da sociedade da noite para o dia. Tem-se que cumprir uma pena e essa pena deve servir para recuperá-lo paulatinamente de maneira que quando ele voltar ao convívio social, possa servir para algo útil. O personagem central da trama optou por uma saída rápida, algo experimental e sem comprovação científica. Como diríamos no jargão literário/musical, “saiu pior a emenda que o soneto”. Seu pai ainda tentava dissuadi-lo da idéia do tratamento, mas ele com insistência conseguiu convencê-lo a falar com o diretor do presídio. O que se segue são cenas dignas de comparação com os porões da ditadura militar no Brasil. Em todo caso, como o barato sai caro, de egresso ele não teve nada. Transformou-se num lixo humano, espancado por suas próprias vitimas, por ex- colegas de gangue (atuais policiais), culminando com um quase suicídio induzido, para depois, dissimuladamente voltar às atrocidades de antes, protegido pelo sistema.
E como o filme também relata a quase morte de um escritor, eu vou parando por aqui antes que acabe sobrando pra minha cabeça, mas antes uma última coisinha. Sabe o que me vem à cabeça quando o assunto é Laranja Mecânica? Não é futebol nem a seleção da Holanda mas sim uma caricatura com um chapéu coco e um olhinho em asterisco, aquele que aparece ali no enunciado,além da trilha sonora fantástica. Preparem a pipoca e as bebidinhas e tenham todos um bom filme.
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